sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Por trás do portão

Elas se aproximaram do enorme portão que estava fechado, haviam muitas pessoas que se aglomeravam em torno do único homem responsável pela liberação da entrada.

 As três se aproximaram do homem,  Isabel e Aparecida eram irmãs, Regina, era filha de Aparecida.

Regina falou com o homem que guardava o portão.

_ Queremos entrar.

_Só você pode entrar, elas não! - Disse o homem.

_ Mas elas são filhas dela, são minha mãe e minha tia, elas tem o direito de entrar!

_E você quem é? Perguntou o homem olhando para Regina.

_Eu sou neta, deixe que entrem também?

O homem então abriu o portão e as três entraram enquanto as demais pessoas esperavam lá fora a sua vez de "visitar" alguém que ainda não havia chegado ao local, por isso a espera.

O portão se fechou atrás delas, se depararam com um enorme salão, estavam paradas no patamar dois degraus acima do solo. Como em transe observaram todos aqueles leitos em forma de maca, todos tão baixos que as pessoas tinham que ficar de cócoras ou sentar-se em um dos banquinhos que havia ao lado da cabeceira de cada leito.
Eram tantos leitos que não daria para contar, todos uniformemente dispostos. Nem todos estavam ocupados, os que tinham um ocupante tinham também um parente a fazer-lhes visita.

_Como vamos achá-la aqui?  É muita gente! -Disse Isabel assustada com o que via a sua frente, Aparecida parecia em festa.

Regina desceu os dois degraus para o solo e fez sinal para que ambas a seguissem.

Começaram a travessar o corredor do enorme salão atrás de Regina que parecia saber exatamente onde encontraria a avó e sem titubear dirigia-se ao final do enorme salão com as duas seguindo seus passos. Não era possível ver o rosto dos “pacientes” e nem mesmo dos visitantes.

Regina parou diante de uma das macas olhou para Aparecida e Isabel que estavam distraídas e assustadas olhando tudo aquilo. quando as duas olharam para Regina com ar de felicidade, souberam que ela havia encontrado a avó.

_Ela esta aqui, tia sente aqui e mãe sente do outro lado.

_Você não vai sentar?  -Perguntou Aparecida

_Não mãe, sente-se você e a tia que são filhas dela!

Regina se dirigiu aos pés da maca e abaixou-se para ver a avó que estava com uma espécie de sonda que vinha do alto e entrava no nariz, com as pernas cobertas, vestia uma blusa verde e seus cabelos estavam branquinhos sem a tintura que ela sempre usava. 

_ Oi Vó! -Disse Regina sorrindo - _Viemos te ver.

A avó trazia no rosto uma expressão de dor, mas não uma dor física. Não dirigiu palavra alguma para nenhuma das filhas,  olhava para a neta, sabia que ela entendia o que estava sentindo.

Regina então estendeu a mão para acariciar seu rosto e pela primeira vez a avó se moveu para impedi-la , ouviu a voz da avó que falava sem mover os lábios e somente Regina a podia ouvir:

_Não! Eu ainda estou sentindo!

Neste momento Regina entendeu, esta era a despedida definitiva.

Uma voz que Regina não conseguia ver de quem e nem de onde vinha, explicou à ela que elas estavam no mundo espiritual, um lugar entre os dois mundos, onde os desencarnados recentemente ficavam esperando pela missa de sétimo dia, e após isso seriam levados aos lugares designados a cada um. 
Então Regina entendeu, é por isso a avó ainda sentia, sentia a separação, a sonda era o fio da vida que ainda a ligava a esfera terrestre e aos entes queridos, por isso a sonda (o fio) vinha do alto e entrava-lhe nas narinas.

Regina acordou com lágrimas nos olhos! Ela tinha a sensação de que viverá realmente aquela situação! 

Lembrou-se que a avó quando viva,  sempre falava para ela:

_Quando eu for embora, se eu tiver a oportunidade de falar com Jesus, vou falar de você! 

A missa de sétimo dia ainda não havia acontecido, fazia poucos dias que a avó havia falecido.

Lembrou-se que no leito de morte a avó apertou sua mão como se dizendo:

_Se eu ver Jesus falarei de você! 

Continua...



 


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