sábado, 29 de outubro de 2016

A bruxa

"_ Dizem que você é bruxa, mas você é tão bonita.

As bruxas são velhas, feias e tem uma verruga no nariz. Você é uma bruxa Nina?" Perguntou Giovana, filha de uma amiga que tinha apenas oito anos.

"_ Quem te disse isso Gigi? Que sou uma bruxa? Nina virou-se para ela gargalhando enquanto colocava no pratinho um pedaço de bolo de chocolate para a menina.

"_ Minha mãe! Ela falou que você é uma bruxa porque tudo que você fala acontece!" A menina disse pegando o pratinho com o bolo.

"_ Sua mãe... sua mãe é uma querida. Quando ela falou isso, se referia as vezes em que acertamos o que vai acontecer, simplesmente porque enxergamos uma situação que o outro não consegue enxergar, entendeu meu anjo?"

"_Entendi!" Respondeu a menina levando o garfo com o bolo à boca enquanto balançava as perninhas  "_ E..de onde vieram as bruxas?"

"_ Gigi, as bruxas são conhecidas a muitos, muitos anos. Não sei de onde elas vieram ou se existiram mesmo! Mas vou dizer á você, o que eu penso de como elas surgiram tudo bem?" 


Sorrindo enquanto aguardava a resposta da menina, que balançou a cabecinha afirmativamente com a boca cheia de bolo.

"_ Então vamos lá. As pessoas mais velhas são muito sábias, e algumas destas pessoas de muita sabedoria, tinham por hábito cultivar em seu quintal ervas medicinais, por exemplo, hortelã, erva cidreira, erva doce! Está entendendo Gigi?" A menina afirmou com a cabeça deliciando-se com o bolo.

"_Estas mulheres já tinham muita idade, eram viúvas, e por isso viviam sozinhas, as vezes elas tinham um gatinho por companhia. As pessoas quando precisavam de alguma erva, ou quando estavam adoentadas, procuravam estas senhoras em busca de alivio para suas dores. Muitos levavam as ervas, e muitos pediam que a sábia senhora fizesse o chá para levarem pronto. Esta me entendendo meu anjo? " Nina perguntou de divertindo com a boquinha estufada e suja de chocolate da menina que prestava atenção á tudo.

"_ Sim." Respondeu Gigi pelo único cantinho de boca que podia sair som.

Limpando o bolo que estava na bochecha da menina com o guardanapo, Nina continuou:

"_Quando a velha e sábia senhora fazia o chá, ela colocava todo seu carinho, seu amor, e sua vontade de ver a pessoa boa. Colocava todo bom sentimento naquela "poção" ..naquele chá, e a pessoa adoentada tomava o chá,  melhorava, então falavam que a senhora velha, feia e com verruga no nariz era bruxa, porque ela havia curado a pessoa doente. Mas na verdade Gigi, eram as ervas, o carinho que ela fazia o chá, e a fé que as curava!"

"_Entendi, mas se ela ajudava os doentes, por que eles falavam que ela era bruxa má?" Gigi perguntou empurrando o prato vazio na direção de Nina.

"_ahhh meu anjo, isto é porque as pessoas gostam de julgar pelo que veem por fora, pela aparência e não pelo que realmente sabem uns dos outros, ou pelo que verdadeiramente sabem que o outro é."

"_ É verdade né Nina.  Sabe, você é mesmo uma bruxa como minha mãe disse. Você "bruxou" este bolo de chocolate, porque estava muito bom e eu quero mais, matou minha fome e eu não tenho mais medo de bruxas. Você pode ser minha bruxa?"

Nina gargalhando abraçou a menina deu-lhe um beijo na face e respondeu com carinho:

"_ Obrigada Gigi, mas... pensei que ao invés de ser sua bruxa eu gostaria de continuar sendo o seu anjo, o que acha?"

"_ Eu acho melhor Nina, prefiro voar com asas são mais bonitas que as vassouras!"





sexta-feira, 28 de outubro de 2016

A leitura

Na época em que eu estava me preparando para a primeira comunhão, era bem menina ainda, foi marcado um fim de semana antes do dia em que realizaríamos a primeira eucaristia, um ensaio seguido de uma missa, para que tudo ficasse bonito.

Pais e mães estavam presentes, a igreja cheia.

Eu e mais alguns colegas fomos escolhidos para fazer as leituras. Eu iria ler a Segunda carta de São Paulo aos Coríntios.

Li antes da missa umas duas vezes, chegada a hora, lá fui eu para o altar onde pela primeira vez falaria diante de um microfone e para muitas pessoas.

Iniciei a leitura :

"_Segunda carta de São Paulo aos Corinthianos."

Isso mesmo gente, falei em alto e bom som "Corinthianos" e não Coríntios. Um ato falho talvez, de tanto ouvir meu pai falar que teria jogo do Corinthians a tarde.

Lembro-me que todos riam, e alguns homens comemoraram por eu ter falado o nome do time, o padre comentou alguma coisa engraçada também e me incentivou a continuar a leitura, desta vez li corretamente!

Fazer o que, era domingo e ia ter jogo, acho que o Corinthians ganhou. Também... com uma missa dedicada a ele.

(Rindo aqui)






terça-feira, 25 de outubro de 2016

Querido diário

Não consigo escrever... 
palavras não brotam, 
frases não nascem...
Só um eco enorme... uma mistura de letras.
Como uma dança sem música começa o
escreve... apaga...escreve...apaga. 
Nada toma forma... nem o parágrafo, que é o início de tudo, 
hoje quer aparecer.
Nenhum sonho quer se revelar, nada... nada...nada.
Tento encontrar um porque, não encontro, ahh desisto... 
Penso...o que tem no vazio que eu possa escrever... já sei
Querido diário, 
hoje as letram sumiram, 
as palavras calaram,
deixo contigo está página em branco
para que o vazio de hoje
encha com a alegria as páginas do amanhã! 








A resposta

A muitos anos atrás, um empresário a quem chamarei de LH tendo que fazer uma viagem á Minas Gerais, passou por Uberaba onde o médium Chico Xavier fazia seus atendimentos.
Decidiu que ao retornar, iria ao encontro do médium para conversar com ele, pois passava por momentos difíceis na empresa e queria uma resposta e foi o que fez LH, no retorno da viagem, parou em Uberaba e foi até o local onde o médium atendia. Deparando- se com centenas de pessoas e sabendo que só conseguiria falar com Chico se esperasse sua vez como todos ali, resolveu hospedar- se em um hotelzinho na cidade. Se havia chegado até ali não iria embora sem a resposta que buscava. Mesmo desanimado pelo enorme número pessoas a sua frente aguardando atendimento, ele estava decidido a esperar. Dois dias se passaram e finalmente chegou a sua vez de conversar com o Chico.
Sentou- se ao lado do médium que com sua mansidão e bondade tão peculiares, perguntou:
"_O que o trás aqui meu filho, o que está acontecendo?"
LH então expôs tudo que vinha acontecendo em sua vida e negócios, falou dos problemas que vinha enfrentando e tudo que tirava-lhe o sono. Chico Xavier, após ouvir as lamentações de LH respondeu serena e calmamente:
"Meu filho, não de desespere, tudo isso logo vai passar, tudo passa."
LH saiu da lá decepcionado e muito contrariado, a viagem toda de volta ele pensava a mesma coisa "_Como pode? Pensei que ele me daria uma resposta, um conselho. Fiquei dois dias lá, dois longos dias esperando para ouvir isso? "
Chegou em casa reclamando e voltou a empresa com sua costumeira arrogância e orgulho.
Alguns dias se passaram, os problemas se resolveram. LH nem mais havia pensado em seu encontro com Chico, para ele o médium não teria ajudado dando respostas á seus problemas. Então, durante uma tarde de calmaria se dando conta de que tudo havia se resolvido, veio-lhe a mente como um eco a mensagem que chico lhe dera:
"_ Tudo logo vai passar. Tudo passa."
Neste momento, deixando de lado seu ceticismo, orgulho e arrogância, ele pensou com carinho em Chico, pois ele lhe havia dado a resposta e ele não conseguiu entender naquele momento.
Passou a contar sua história como exemplo á alguns conhecidos, a tão curta frase e simples verdade que aquele homem humilde e cheio da sabedoria divina lhe ensinou.
"Tudo vai passar... tudo passa."

Este senhor a quem chamei de LH realmente existiu e faleceu alguns anos atrás.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

O anjo do Manuel (Aviso texto longo)

Sentado na areia, o sol aquecendo seu rosto, ruído...só do mar a sussurrar.

Um grito ao longe, o despertou de sua introspecção, respirou fundo, semicerrou os olhos para ouvir melhor... um choro de criança, gritos de socorro.

Levantou-se devagar, abrindo as asas deixou o vento ajudar a erguer-se do chão. Sobrevoando baixo por entre árvores e alguns braços de mar, seus olhos e ouvidos atentos buscavam de onde vinha o lamento.

Outro grito “_Mãeeee...mãezinha!" Então avistou seu alvo, devagar desceu pousando no chão seus pés e fechando as asas.

Debruçou-se para olhar. No fundo de um poço sem uso, um menino de quatro anos chorava assustado com o rosto sujo de lama e lágrimas.

“_Oi amiguinho! Disse ele ao pequeno que tremia de frio e de medo. “_Como você se chama?”

O menino ainda chorando, disse torcendo os dedinhos “_Manuel... e quem é você?”

“_ Sou um amigo! Lindo nome você tem Manuel! Me diga, onde está a mamãe e como ela se chama?”

“_Ela tá lá em casa, se chama Helena.” Respondeu o menino ainda com os olhinhos cheios de lágrimas.

“_Calma, tudo vai ficar bem tá bom? Fique quietinho, vou chamar a mamãe!”

O Menino balançou a cabeça concordando. O anjo ergueu-se ficando de pé, fechou os olhos e começou a enviar uma mensagem à mãe pelas ondas do pensamento:

“Helena...Helena procure o menino... procure o menino... venha exatamente como esta, procure o menino!”

Helena pendurava roupas no varal, lembrou-se do menino e chamou por ele :

“_Manoel... Manoel...”

Em desespero sem tirar nem mesmo o avental pesado que usava, a mãe correu por entre as árvores que cercavam a casa, a chuva do dia anterior derrubara muitas delas, chegando ao local em que o menino ficava todos os dias,  uma árvore estava caída bem em cima da pedra em que o menino costumava brincar com os carrinhos. 


Apressada foi pela única trilha livre de galhos que encontrou, o chão de terra estava escorregadio, o que a fez cair, ao levantar viu o carrinho do menino na lama. 

Aos prantos continuou sua procura chorando e gritando pelo menino, até que viu o poço, mas não poderia passar por lá, decidiu dar a volta por trás dos arbustos caídos e chegando ao poço, debruçou-se para olhar no buraco, viu Manuel.

“_Mamãeeeee!” Gritou o pequeno feliz em ver a mãe, que tentava alcançar com suas mãos a mão do menino, mas por uns poucos centímetros não alcançou.

“_Filho, você está machucado?”

“_Não mamãe, estou com frio e com fome.”

A mãe sorriu em ver que o menino estava bem.

“_Filho, mamãe vai buscar uma corda e volta já tá bom? Venho logo”

Uma outra onda de pensamentos foi enviada pelo anjo:

“_Helena... o avental, use o avental....”

No mesmo instante Helena olhou para seu avental, era perfeito. Reforçado feito de couro e as alças longas, tirou-o rapidamente, voltando a deitar-se no chão rente ao poço.

“_Manoel, pegue a alça do avental e faça aquele nó que mamãe ensinou, dois nós lembra filho?

“_ Aquele forte?”

“_Sim filho, aquele forte...faça dois ou três depois que passar em volta da sua cintura.”

O menino fez como a mãe mandou.

“_Filho, preste atenção, agora mamãe vai puxar você e quando alcançar meu braço você agarra ele bem forte, tá certo?”

O menino balançou a cabeça afirmativamente, Helena começou a tentativa de puxar,  sem conseguir, chorando sem o menino ver... ela rezou.

“-Meu Deus, mande um anjo pra me ajudar! Anjo da guarda do meu Manuel, me ajuda eu lhe peço com todo amor do meu coração!”

Inexplicavelmente, um impulso e força desmedidos tomaram conta de seus braços, Helena sentiu que o avental começou a subir, sorrindo disse ao menino:

“_Manuelito, quando chegar aqui em cima agarre o braço da mamãe, bem forte, bem forte, como quando brincamos de balanço, está certo?”

O menino agarrou os braços da mãe que o puxou para fora do poço, chorando e sorrindo abraçava sua joia preciosa, seu filho.

“_Obrigada meu Deus, obrigada anjo da guarda, obrigada, obrigada, obrigada!”

O Menino vendo o anjo atrás da mãe com as asas abertas, falou:

“_Mamãe o amigo que tem  asas grandes ajudou a gente!”

Pensando que o menino se referia a sua oração, ela disse:

“_Sim meu filho, o anjo, seu  amigo de asas grandes veio nos ajudar, vamos agradecê-lo?

O menino virou-se para o anjo e abanou a mãozinha agradecendo!

“_Obrigada grande amigo de asas!”

“_Não é preciso agradecer Manoelito." Disse o anjo "_Fico muito feliz em ter ajudado vocês, estarei sempre por perto, se precisar é só chamar.”

Helena mesmo sem ver ou ouvir nada que o menino via e ouvia,  aproveitou para agradecer também:

“Muito...muito obrigada meu Deus e nosso amigo de asas, anjo da guarda do Manoelito.”

O anjo acenou para o menino e levantou seu voo, Manoel olhando pra trás enquanto caminhava aos cuidados da mãe, viu o anjo voando e encantado com a cena, em sua ingenuidade perguntou:

“_Mamãe quando a gente ver nosso amigo anjo de asas grandes de novo, você me deixa voar com ele?"

No céu em seu voo o anjo desapareceu deixando em Manoel a vontade de voar, que ele realizou quando adulto ao tornar-se um piloto de aviões.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Bálsamo

Saudade é coisa grande,

nem cabe direito no peito,

cresce bem devagar,

até dos olhos a gota rolar.

Lágrimas não preenchem o vazio,

nem a ausência que tem por nome solidão.

Dizem que a dor se ameniza,

com o bálsamo que só o tempo tem,

mas jamais apaga a lembrança 

que você guardou de alguém!!!

domingo, 16 de outubro de 2016

Tempos diferentes, acontecimentos iguais

Lendo um texto de Raquel de Queirós, em que ela falava sobre a seca de 1915, uma das primeiras frases que li me trouxe a certeza de que alguns acontecimentos no mundo nunca mudam, seja no século XX ou XXI...
"Em tempos de seca sempre acontecem coisas: com o flagelo, parece que os homens perdem o temor a tudo: quem nunca tinha feito mal a nada, vira besta-fera, porque a fome é má conselheira e miséria não tem pena de ninguém."
Raquel de Queirós
"O caso da menina da estrada do Canindé"

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Aceite

Não é fácil nos adaptarmos ou aceitarmos as situações difíceis que a vida coloca em nossos caminhos, alguns são desafios bastante difíceis.

Sentimos nos faltar o chão, a falta de um ombro amigo, de uma palavra de consolo.

Somente quem está vivenciando e sentindo na pele um problema sabe o tamanho da dor, do sofrimento e da solidão que esta sentindo, mesmo que esteja cercado de gente.

Pessoas se aproximam, solidárias a nossa dor, tentam nos ajudar e nós aceitamos a mão que se estende, mas... sabemos que só nós mesmos poderemos buscar no fundo da nossa alma a nossa força interior, a esperança escondida, a fé adormecida e a coragem que precisaremos para vencer.

Li em algum lugar :"A maior vitória é a que se tem sobre si mesmo."

Confie em Deus, aceite o conforto de quem te quer bem, permita-se sorrir mesmo que seu coração esteja apertadinho,  isso irá  ajudar a caminhar na direção certa,  não desanime diante das dificuldades, este é o primeiro passo para alcançar a vitória!



domingo, 9 de outubro de 2016

Nada pra mim

Eu não vim aqui 
Pra entender ou explicar 
Nem pedir nada pra mim 
Não quero nada pra mim 
Eu vim pelo que sei 
E pelo que sei 
Você gosta de mim é por isso que eu vim
Eu não quero cantar 
Pra ninguém a canção 
Que eu fiz pra você 
Que eu guardei pra você 
Pra você não esquecer 
Que eu tenho um coração 
E é seu 
Tudo mais que eu tenho 
Tenho tempo de sobra 
Tive voce na mão 
E agora
Tenho só essa canção

Ana Carolina


quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Liberdade

Quero sair sem destino
encontrar uma praia
e por ela caminhar
sair catando conchas,
correr na areia,
entrar no mar,
brincar com a água,
tendo apenas o sol pra testemunhar,
sorrir sem que critiquem meu riso,
falar sem que queiram me calar,
chorar sem que reprimam meu pranto.
Quero sair sem destino,
encontrar uma rede esquecida,
nela me deitar e respirar a liberdade,
balançar e rir  feito criança
sem me preocupar com a hora de voltar.

Antes do Dia D

Por volta de 1987/88 em uma das minhas consultas com a terapeuta a questão que levantei, foi um certo receio com relação a casamento. Receio não...eu tinha medo mesmo, mas não era medo de casar, era medo do que vinha ANTES do "Dia D" .

Depois de algumas sessões com minha terapeuta sobre este tema,cheguei a uma lembrança da minha infância. Digamos que entrei em um transe leve, chegamos ao motivo do medo!

Eu deveria ter mais ou menos uns três, quatro ou cinco anos, não sei ao certo. Eu e minha avó paterna estávamos no portão da casa onde morávamos, uma mulher veio conversar com minha avó, só me lembro de algumas coisas, a mulher falou alguma coisa para minha avó.

_ Ela tá ai? Perguntou a vó.

_ Tá ai! Respondeu a mulher.

Minha avó virou-se para o portão e gritou :

_Ohhh Cida, estou levando a menina comigo, já volto!

_ Onde a gente vai vó? Perguntei relutante, não queria ir, por algum motivo aquela criança não queria ir, mas a vó, tinha lá sua curiosidade, e respondeu:

_ Vamos ver a noiva filha!

Animada, reforcei o "grito" para minha mãe :

_ Mamãeee vou com a vó ver a noiva!

Segui com minha avó me segurando pela mão e esta outra mulher do lado falando sem parar, no final da rua, uma casa, portão aberto, um entra e sai de gente danado.

Entramos pelo quintal da casa, fomos até o fundo onde havia outra casinha, onde a noiva iria morar depois do casamento.

Um sapato de homem na porta da casa da noiva, cheio de sangue foi a primeira coisa que eu vi, o chão mal lavado com a água rosada. Lembro de algumas palavras soltas como por exemplo: Ele chegou.... vieram conversar aqui...ela não queria mais... revólver... acabou assim.... ele perdeu a cabeça,.. ele também morreu... a esta altura o cenário já estava gravado em minha mente e está até hoje, tanto que estou escrevendo este texto.

Minha avó tentou reverter a coisa, acho até que se arrependeu por ter me levado, mas não havia mais o que fazer, eu estava vendo tudo aquilo.

Ouvi algum comentário entre minha avó e a mulher que nos acompanhava, mas eu não conseguia prestar atenção em nada a não ser na cena que eu tinha visto. o sapato, o chão molhado, palavras soltas. Com toda certeza eu deveria estar me perguntando naquele momento, onde estava a "noiva" que minha vó me levou pra ver...

A vó me pegou pela mão, entramos na sala da casa principal, pela primeira vez na vida eu vi aquela caixa grande no meio da sala, acho que descobri ai o que acontecia quando as pessoas morriam, se é que a esta altura eu já sabia o que significava esta palavra. Eu não entendia porque aquele "casamento" estava tão triste. Claro, Noiva lembra casamento!

Lembro-me vagamente de pessoas me olhando, tive medo, acho que queria ver a noiva e ir embora. Perguntei:

_Vó, cade a noiva?

Minha vó pegou-me no colo, aproximou-se do caixão e meus olhos viram aquela mulher vestida de noiva, um buque nas mãos que cruzadas envolviam um terço, sapato branco, vestido branco, eu vi a noiva... só não era o que eu esperava encontrar... em minha fantasia de menina, imaginei minha boneca Susi, que eu vestia de noiva e agora iria saber o que era o casamento pra brincar com minha irmã depois.

Minha vó me colocou no chão e saindo da sala começamos o caminho de volta pra casa, sei que perguntava coisas e minha avó respondia do jeito dela.

Depois desta sessão terapêutica, perguntei a minha mãe sobre este fato, minha mãe disse que não ouviu, nem conseguiria porque nossa casa havia sido construída em um terreno caído para o fundo, hoje eu chamaria de um "cortiço de luxo", no mínimo cinco casas ribanceira abaixo, a nossa era a segunda do "trem". Ela me falou quem era a moça, o que aconteceu com ela e falou que só soube depois que minha avó havia me levado lá, que ela não teria deixado eu ir, bem ela deve ter descoberto naquela noite mesmo, quando possivelmente dei trabalho pra dormir rsrs

Não culpo minha avó que sempre foi a doçura em pessoa, ela não teve a intenção de me impressionar ou me assustar, ela nem mesmo sabia o que ela encontraria lá.

Mesmo sem querer, nossos pais, avós e familiares, podem criar traumas, medos, inseguranças, que poderiam ser evitados explicando acontecimentos que por ventura a criança venha a viver ou a saber. Explicar as coisas como são de verdade, não inventar e florear motivos para reverter o fato a nosso favor, seja ele por qual motivo for, é imprescindível esclarecer e desmistificar.

Não podemos esquecer que uma imagem ou um acontecimento visto, será lembrado por esta criança e poderá deixar sequelas que ela levará para sua vida adulta e só conseguira elucidar se por ventura um dia precisar buscar ajuda de um terapeuta em algum momento conflituoso da vida e com sorte consiga trazer a tona algo que foi marcante na infância.


Ps: A terapeuta fez um bom trabalho comigo, depois disso me casei !


segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Ninguém é substituível

Muitas vezes no ambiente de trabalho escutei pessoas dizendo: 
"Ninguém é insubstituível" ou "Aqui somos apenas um número".
Nunca concordei com isso seja em uma empresa, ou em qualquer outro lugar, mesmo que se substitua o profissional, você não conseguirá obter um trabalho igual, com a mesma qualidade, e muito menos com a mesma energia.
Uma das empresas em que trabalhei, no último dia antes do encerramento do ano sempre faziam uma festa de confraternização para os funcionários.  Em um destes últimos dias do ano, pela manhã no dia da confraternização, recebemos a notícia de que um dos funcionários mais devotados e esforçados, um homem que varou noites para terminar um trabalho, havia morrido, sabíamos que ele não andava bem, mas a gente sempre pensa, "ele (a) vai sair dessa"!
Ao recebermos a notícia, que por sinal acabou com o dia de todos, pensamos, não haverá festa porque nós não temos clima para isso. 
Pois é...pensamos apenas, porque o recado que recebemos foi "A vida continua, vai haver festa sim" todos deveriam estar presentes como uma forma de homenagear a pessoa que havia organizado. E a festa aconteceu no pior dos climas que podem imaginar, mas aconteceu, porque nem todo mundo era amigo dele, ou tinha afinidade com ele.
Para os que não o conheciam, era só mais um funcionário, como muitos outros que já haviam morrido antes, um número que seria substituído, outro funcionário seria colocado no lugar dele e o problema seria resolvido materialmente falando.
Será mesmo que se resolve ou preenche um vazio deixado por alguém que você quer ou queria bem?
Eu pergunto e respondo _"NÃO" para eles que eram a parte material da empresa, nosso amigo de trabalho era substituível, para nós... simples funcionários como ele que embora fosse peça importante de um departamento nos tratava como iguais, era o nosso amigo, com sentimentos, uma pessoa que sorria conosco, chorava conosco. 
Por isso, eu continuo com o mesmo pensamento, " Ninguém é substituível", nunca foi, nunca será. Porque bem querer não é substituível, amizade não é substituível, amor não é substituível, você pode ter outro amigo, outro amor... mas aquele era único portanto insubstituível! 

sábado, 1 de outubro de 2016

Porque hoje é sábado

Porque hoje é sábado, busque ter momentos de lazer, divirta-se dentro de suas possibilidades.

Não apresse o passo, siga sempre sorrindo o sorriso te fará sentir mais feliz.

Experimente coisas novas, não menospreze a voz de sua intuição, desvie dos caminhos que ela lhe diz ser perigoso.

Não abandone seus princípios, vá em busca do que te faz feliz... sem perder a cautela pelo caminho.

Porque hoje é sábado, vá devagar, não se irrite, use a cabeça...pense, as maiores batalhas foram resolvidas num momento de calmaria em meio as lutas.

Namore bastante! Faça amor, não esqueça: quem faz amor se ama antes... use camisinha.

Se você beber... vá dormir, sonhe que é o super homem mas na vida real fique longe do volante.

Mesmo sóbrio, aceite que você é mortal, e muita gente espera sua volta "inteiro" não abuse da velocidade, correr pra que? Quer chegar antes do outro lado?!!!!!

Só porque hoje é sábado, não esqueça de Deus, ore, peça proteção, peça o que deseja só não esqueça que Deus vai te ajudar se você agir, levante e de o primeiro passo.

Só porque hoje é sábado não fique parado, leia, saia para caminhar, vá ao cinema, ao teatro, veja um programa divertido na televisão, vá conhecer um parque, ligue para alguém que lhe é importante!

Faça isso sempre, a começar de agora...não só porque hoje é sábado.