terça-feira, 18 de outubro de 2016

O anjo do Manuel (Aviso texto longo)

Sentado na areia, o sol aquecendo seu rosto, ruído...só do mar a sussurrar.

Um grito ao longe, o despertou de sua introspecção, respirou fundo, semicerrou os olhos para ouvir melhor... um choro de criança, gritos de socorro.

Levantou-se devagar, abrindo as asas deixou o vento ajudar a erguer-se do chão. Sobrevoando baixo por entre árvores e alguns braços de mar, seus olhos e ouvidos atentos buscavam de onde vinha o lamento.

Outro grito “_Mãeeee...mãezinha!" Então avistou seu alvo, devagar desceu pousando no chão seus pés e fechando as asas.

Debruçou-se para olhar. No fundo de um poço sem uso, um menino de quatro anos chorava assustado com o rosto sujo de lama e lágrimas.

“_Oi amiguinho! Disse ele ao pequeno que tremia de frio e de medo. “_Como você se chama?”

O menino ainda chorando, disse torcendo os dedinhos “_Manuel... e quem é você?”

“_ Sou um amigo! Lindo nome você tem Manuel! Me diga, onde está a mamãe e como ela se chama?”

“_Ela tá lá em casa, se chama Helena.” Respondeu o menino ainda com os olhinhos cheios de lágrimas.

“_Calma, tudo vai ficar bem tá bom? Fique quietinho, vou chamar a mamãe!”

O Menino balançou a cabeça concordando. O anjo ergueu-se ficando de pé, fechou os olhos e começou a enviar uma mensagem à mãe pelas ondas do pensamento:

“Helena...Helena procure o menino... procure o menino... venha exatamente como esta, procure o menino!”

Helena pendurava roupas no varal, lembrou-se do menino e chamou por ele :

“_Manoel... Manoel...”

Em desespero sem tirar nem mesmo o avental pesado que usava, a mãe correu por entre as árvores que cercavam a casa, a chuva do dia anterior derrubara muitas delas, chegando ao local em que o menino ficava todos os dias,  uma árvore estava caída bem em cima da pedra em que o menino costumava brincar com os carrinhos. 


Apressada foi pela única trilha livre de galhos que encontrou, o chão de terra estava escorregadio, o que a fez cair, ao levantar viu o carrinho do menino na lama. 

Aos prantos continuou sua procura chorando e gritando pelo menino, até que viu o poço, mas não poderia passar por lá, decidiu dar a volta por trás dos arbustos caídos e chegando ao poço, debruçou-se para olhar no buraco, viu Manuel.

“_Mamãeeeee!” Gritou o pequeno feliz em ver a mãe, que tentava alcançar com suas mãos a mão do menino, mas por uns poucos centímetros não alcançou.

“_Filho, você está machucado?”

“_Não mamãe, estou com frio e com fome.”

A mãe sorriu em ver que o menino estava bem.

“_Filho, mamãe vai buscar uma corda e volta já tá bom? Venho logo”

Uma outra onda de pensamentos foi enviada pelo anjo:

“_Helena... o avental, use o avental....”

No mesmo instante Helena olhou para seu avental, era perfeito. Reforçado feito de couro e as alças longas, tirou-o rapidamente, voltando a deitar-se no chão rente ao poço.

“_Manoel, pegue a alça do avental e faça aquele nó que mamãe ensinou, dois nós lembra filho?

“_ Aquele forte?”

“_Sim filho, aquele forte...faça dois ou três depois que passar em volta da sua cintura.”

O menino fez como a mãe mandou.

“_Filho, preste atenção, agora mamãe vai puxar você e quando alcançar meu braço você agarra ele bem forte, tá certo?”

O menino balançou a cabeça afirmativamente, Helena começou a tentativa de puxar,  sem conseguir, chorando sem o menino ver... ela rezou.

“-Meu Deus, mande um anjo pra me ajudar! Anjo da guarda do meu Manuel, me ajuda eu lhe peço com todo amor do meu coração!”

Inexplicavelmente, um impulso e força desmedidos tomaram conta de seus braços, Helena sentiu que o avental começou a subir, sorrindo disse ao menino:

“_Manuelito, quando chegar aqui em cima agarre o braço da mamãe, bem forte, bem forte, como quando brincamos de balanço, está certo?”

O menino agarrou os braços da mãe que o puxou para fora do poço, chorando e sorrindo abraçava sua joia preciosa, seu filho.

“_Obrigada meu Deus, obrigada anjo da guarda, obrigada, obrigada, obrigada!”

O Menino vendo o anjo atrás da mãe com as asas abertas, falou:

“_Mamãe o amigo que tem  asas grandes ajudou a gente!”

Pensando que o menino se referia a sua oração, ela disse:

“_Sim meu filho, o anjo, seu  amigo de asas grandes veio nos ajudar, vamos agradecê-lo?

O menino virou-se para o anjo e abanou a mãozinha agradecendo!

“_Obrigada grande amigo de asas!”

“_Não é preciso agradecer Manoelito." Disse o anjo "_Fico muito feliz em ter ajudado vocês, estarei sempre por perto, se precisar é só chamar.”

Helena mesmo sem ver ou ouvir nada que o menino via e ouvia,  aproveitou para agradecer também:

“Muito...muito obrigada meu Deus e nosso amigo de asas, anjo da guarda do Manoelito.”

O anjo acenou para o menino e levantou seu voo, Manoel olhando pra trás enquanto caminhava aos cuidados da mãe, viu o anjo voando e encantado com a cena, em sua ingenuidade perguntou:

“_Mamãe quando a gente ver nosso amigo anjo de asas grandes de novo, você me deixa voar com ele?"

No céu em seu voo o anjo desapareceu deixando em Manoel a vontade de voar, que ele realizou quando adulto ao tornar-se um piloto de aviões.

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